Kboco expõe em Nova York e na Bienal de Valência
Por Larissa Mundim
O artista plástico Kboco integra a exposição coletiva Ruas de São Paulo, A Survey of Brazilian Street Art from Sao Paulo, entre 17 de fevereiro e 17 de março, na Jonathan Levine Gallery, em Nova York. Telas e desenhos de Kboco também marcam presença na Bienal de Valência, Espanha, cujo tema é Encontro dos Mares, a convite do curador Emanuel Araújo para a mostra Áfricas Américas: os pontos convergentes da ancestralidade e a contemporaneidade. O jovem artista plástico goiano vive em São Paulo desde o ano passado e, entre outros trabalhos, vem desenvolvendo projetos junto à Galeria Choque Cultural.
Segundo Baixo Ribeiro, um dos proprietários da Choque Cultural, Ruas de São Paulo é a primeira grande exposição do gênero dedicada ao grafite brasileiro, fora do Brasil. Além de Kboco, Ruas de São Paulo reúne oito artistas: Boleta, Fefê Talavera, Highraff, Onesto, Speto, T. Freak e Zezão. O interesse no trabalho teria surgido a partir da publicação do livro Graffiti Brasil, escrito pelo britânico Tristan Manco, sucesso de crítica e de venda na América, Europa e Ásia.
Para Kboco, a seleção para Nova York surgiu como continuidade de trabalhos que já vinham sendo desenvolvidos no circuito de galerias alternativas da capital paulista. “A filosofia da Choque Cultural tem tudo a ver com minha proposta artística”, comenta. Antes de mostrar seus painéis na galeria de Baixo Ribeiro, pesquisadores e a imprensa tiveram o primeiro contato com o traço ímpar de Kboco na exposição conjunta com Herbert Baglione, na 29ª edição da mostra Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM-SP).
Naquela ocasião, os críticos que questionaram a curadoria do Panorama deram razão à presença de poucos artistas, entre eles, Kboco e Herbert. No MAM, fez contato com Emanuel Araújo e integrou a mostra Território Ocupado, no Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera, em período simultâneo à visitação da 27ª Bienal de São Paulo. “De certa forma, a participação na Bienal de Valência é um desdobramento desse projeto”, avalia Kboco. A abertura da Bienal de Valência está programada para 27 de março.
Ancestralidade
Kboco pinta os muros de Goiânia/GO há cerca de oito anos e, ao fazer sua primeira exposição em conjunto com Herbert Baglione, na Galeria Stella Isaac, localizada na capital goiana, travou contato com o curador Felipe Chaimovich. Naquela ocasião, o crítico de arte conheceu um grafite limpo, fluido, influenciado pela art nouveau com pesquisa aprofundada na cultura de civilizações ancestrais (africanas e egípcias, principalmente). Assim como outros grafiteiros brasileiros, Kboco é adepto de uma pintura urbana gestual, desenvolvida a partir da utilização mista de rolo e spray. “Essa é uma técnica que surge das limitações que nos levaram a ser criativos para superar dificuldades, e hoje diferencia o grafite brasileiro no contexto mundial”, comenta o artista.
Entre os contemporâneos, o jovem artista plástico admite influências da obra de Roberto Burle Marx e suas relações com a arquitetura e o paisagismo. Interessado em trabalhar as múltiplas linguagens artísticas, atualmente Kboco vem gravando suas imagens em suportes alternativos: “Temos que aproveitar os meios disponíveis, os instrumentos que o mundo contemporâneo nos oferece”, opina. Além dos painéis de rua e eventuais interferências em galerias, agora os traços elegantes de Kboco começam a ser notados em impressos, vídeo e fotografia. Recentemente, em parceria com o grafiteiro Highraff e o VJ Charlie, participou de uma vídeo-instalação, durante o Nokia Trend, em São Paulo.
Ultimamente vem se acirrando ainda a relação de sua obra com a música. “A parte mais gráfica da minha pintura eu comparo ao jazz. E isso tem a ver com o trabalho que fiz em conjunto com o Herbert (Baglione)”, revela. Para ele, o jazz e o samba trazem imagens e o fazem criar, inspirado no improviso e na precariedade característicos desses estilos musicais. Sendo assim, a grafitagem de Kboco não é panfletária; é intuitiva e, segundo ele, ocorre de forma “xamânica”: “Não tem um conceito anterior. As coisas vêm naturalmente, espontaneamente. E isso começou quando eu era criança”, lembra o artista.
Uma das preocupações do artista é a de estabelecer relações com seu meio ambiente. Tanto é que seu processo criativo está intimamente ligado à movimentação da cidade e à observação dos espaços urbanos, sobretudo dos que necessitam de revitalização. “Hoje em dia não temos mais a preocupação de pintar na rua pra todo mundo ver. O lugar é que pede a pintura, a textura que leva anos pra se formar, a ruína… A gente pinta com a sujeira da cidade”, comenta ele.
Mais info: Larissa Mundim – 9968 1658
Casa da Cultura Digital